2-3? 1-5? O que importa? Perde sempre o mesmo...

Quem não cuida dos seus, não pode esperar ganhar a confiança dos outros. Foi isto que pensei ao ler as notícias de hoje, vindas de Kiev. Embalado pelo apuramento para o Mundial pensei, logo em seguida, que se isto fosse um jogo de futebol o resultado, por esta altura, seria qualquer coisa como: União Europeia 2 - 3 Rússia; mas a coisa pode ficar União Europeia 1 - 5 Rússia.

A tal da Parceria de Leste, antecâmara da União Europeia que, por agora, não tem como receber mais candidaturas para estados-membros (é claríssimo que a prioridade é a inclusão dos Balcãs!), foi desenhada para aproximar a União Europeia dos três estados transcaucasianos (Arménia, Geórgia, Azerbaijão) e ainda da Bielorrússia, da Moldova e da Ucrânia.

O primeiro golo, já se sabia, foi direitinho para a Rússia. Minsk ainda fingiu interesse na Parceria de Leste, mas poucos ficaram convencidos que Minsk e Bruxelas acertassem agulhas. Afinal Bruxelas adora, de quando em vez, relembrar que Minsk tem "o último Ditador da Europa". Minsk, por seu lado, tem interesses estratégicos, diria que vitais mesmo, com Moscovo. Este golo foi, por isso, limpinho; de grande penalidade e sem guarda-redes.

O segundo golo foi para a União Europeia, hipótese de empatar o jogo. A Geórgia, ainda sob clara dominação de Saakashvili, mostrou um ímpeto invulgar pelo Ocidente. A Geórgia só queria saber de UE e de OTAN e tudo o mais eram cantigas. Mas Saakashvili caiu, ficou sem poder e aquilo que parecia um golo pode ser, no final, um fora de jogo. Por agora fica 1-1 mas não é garantido que se mantenha.

A União Europeia passou, em seguida, para a frente do marcador. A Moldova, em paridade com a Geórgia, foi chamada de campeã, de timoneira e de bom exemplo. A Moldova, verdadeiro 2-1 que coloca a União Europeia em vantagem, irá a Vilnius assinar a parceria; Chisinau irá a Vilnius fazer figura de boa aluna (será colega de turma da menina Lisboa?), veremos é por quanto tempo...

A União Europeia estava contente. Contava ir fulgurante para o 3-1 mas estampou-se, trocou os pés, caiu no chão e viu a Rússia igualar a partida. A Arménia disse "obrigadinho, mas por agora não" e a seguir bateu à porta de Moscovo para saber se ainda tinham cadeiras, para a Comunidade Eurasiática. Moscovo sorriu, convidou a entrar e antes que a UE falasse fechou a porta. Ficou feito o 2-2.

A União Europeia falou em arbitragens injustas; em regras mal desenhadas; em pressões. A UE falou naquilo que também fez, mas é sempre mais difícil vermo-nos por inteiro ao espelho. E enquanto se queixava a Rússia foi fazendo jogo; foi passando a bola com controlo, com domínio, com tática e lá chegou ao 2-3. A Ucrânia anunciou hoje que irá a jogo, mas que prefere o equipamento branco-azul-vermelho ao azul-dourado.

E o 5-1? Não nos podemos esquecer que a Géorgia poderá ser golo em fora de jogo e, se assim for, e a jogada se repetir, tenho em crer que será ponto para a Rússia e o 2-3 passará para 1-4. Vantagem dos Visitantes, porque os da Casa nem dos da casa tomam conta... E depois o golo incerto, o Azerbaijão, que animado pelo petro-dólares vai jogando com os dois lados. É quase certo que não assinará em Vilnius a adesão à Parceria, mas também não é certo que entre na Comunidade que Moscovo oferece....

Baku é assim uma espécie de golo em tempo de descontos; que não se sabe quando irá acontecer mas que, a manter-se a situação, é bem provável que penda para os Visitantes e lá ficamos com o União Europeia 1 - 5 Rússia. É bem provável que a União Europeia veja a Parceria de Leste, fraco projecto (desenhado por quem não tem capacidade para acolher novos membros!), definhar após ganhar vida.

E assim, lá ficamos nós com (mais) uma demonstração de que a União é cada vez menos atractiva; de que a União, une cada vez menos. Tudo isto numa altura em que Ankara estuda a hipótese eurasiática; no momento em que Londres prepara um referendo sobre a aliança com Bruxelas; no instante em que Zagreb também fala em semelhantes manobras; no momento em que alianças Latinas e lobbys Escandinavos minam o que outrora foi respeito e entendimento...


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