Surpreso, Sr. Presidente? Surpreso fiquei eu...

O Presidente da República que se engalanou para mais um "corta-fita", uma das raras funções que ainda consegue realizar com competência, mostrou-se surpreso por Portugal ser a excepção à Europa, no que se referia ao acordos entre partidos políticos. Ora, ora, ora... Então Vossa Excelência, sempre tão arguto, está assim tão surpreso? E surpreso com o quê mesmo?

Denota o Fidalgo que, aos poucos, a palavra "consensos" vai sumindo do léxico político europeu... E ainda bem! O Fidalgo não é, nunca foi, contra uma política de consensos na lógica de Habermas, se o consenso for entendido na sua totalidade e não apenas como instrumento de uniformismo restrictivo, que impede o direito a pensar e a agir de modo diferente.

O consenso de Habermas não elimina o confronto na esfera do simbólico e da ideologia; o consenso é um compromisso alargado que comporta matizes diferentes; o consenso de Habermas nunca foi uma porta para um seguidismo parolo, enviesado e que proibe o discurso da alternativa e achincalha a ideia diferente (por ser diferente).

Quanto ao diálogo político reinante na Europa, o Fidalgo gostaria de saber a que Europa se refere a figura presidencial. A Europa onde a Bélgica levou mais de um ano a formar governo, batendo o record pertencente ao Iraque de estado sem governo por mair periodo de tempo? Ou a Europa das eleições na Grécia que conduziram a uma maior instabilidade? Ou a Europa da República Checa onde a possibilidade de um resgate conduziu ao "chamamento" eleitoral, por desacordos entre os partidos com maior representatividade parlamentar?

Ou a Europa da Itália onde os acordos políticos são, quando muito, pontuais e tão efémeros que chegam a dar vontade de rir, não fosse a situação dramática. Ou a Europa da Bulgária, abraços com uma série de protestos anti-governo e com uma clara incapacidade de as várias forças políticas encontrarem uma ideia comum? Ou a Europa da Hungria, ainda a recuperar do choque da constituição de Orban e a tentar entender como se joga o jogo democrático daqui em frente.

Estava surpreso com o quê mesmo? Concordo que não serve a Portugal uma Oposição incapaz de dialogar e incapaz de apresentar propostas realistas, sem o traço da demagogia populista. Concordo que não serve a Portugal uma Oposição que bate o pé, para captar votos, e que depois transforma o seu discurso por causa do "fardo governativo". Mas também não serve a Portugal a ideia de que apenas o uniformismo ideológico-intelectual nos salvará da crise.

O Sr. Presidente ficou surpreso com a falta de acordo político em Portugal? O Fidalgo fica surpreso com o que surpreende o Sr. Presidente da República. Talvez fosse mais útil surpreender-se com outras coisas... Sei lá o desemprego? A "fuga dos cérebros"? A nova pobreza? A exclusão social? A destruição dos sonhos e da realização de duas gerações?


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