Hoje recordo... E depois celebraremos...

O dia nasceu sem sol. Nuvens brancas no céu e um vento quente agita as folhas das árvores e aquece os corpos. O sol não nasceu mas está calor. Ainda não é uma da tarde e já passámos os 35ºC (37ºC diz o termómetro). Tentei desligar o ar condicionado por uns instantes, mas logo grossas gotas de suor contrariaram os meus intentos.

O ano passado estávamos juntos. Há dois anos não. Ainda falho em entender porque decidimos dar ao dia da Mãe a volatilidade do primeiro domingo de Maio, enquanto o dia do Pai se fixa no estável 19 de Abril. Não há muito tempo, já mo disseste antes, celebrávamos o dia da Mãe a 8 de Dezembro. Não que a data mude a distância, mas gosto de pensar em outras coisas.

Ia querer acordar mais cedo. Ir até à cozinha. Dar de comer ao Bob, para ele se distrair e depois preparar o pequeno-almoço. Ia tentar fazer o mínimo barulho. Colocar tudo na sala de jantar; como quem preparar um banquete para uma Imperatriz. Ia colocar mais coisas na mesa do que as que conseguimos comer, porque o importante era estarem lá... como eu não estou hoje...

Ia ter alguma coisa combinada com a Catarina e com a Inês. Talvez flores, túlipas se as encontrássemos bonitas. E por certo um postal. Ia já ter pensado em algo bonito para escrever, sabendo que as palavras são pálidas e fracas para te agradecer tanta coisa. Para transformar em obrigado os silêncios de cumplicidade e as horas de paciência.

Talvez fossemos almoçar fora. E porque não? É verdade que não és mais Mãe hoje, do que foste ontem, ou do que serás amanhã, mas é hoje que te celebramos enquanto Mãe. Há dois meses atrás celebrámos a Mulher. E por isso repito, talvez fossemos almoçar fora, ao Aquavital, com vista para o  Tejo que insiste em não me levar as Saudades.

Mas desta vez não posso. Voltei a estar longe. Mais longe do que em 2014, quando andava pela Anatólia Turca. Agora estou nos domínios do Império Mugal. No Sul da Ásia. No Paquistão. Agora acordo sozinho, envolto no desconfortável abraço de um calor persistente; em vez de acordar para o teu abraço suave. Mas não esqueço que é o teu dia.

E é em ti que me inspiro hoje. É em ti que penso enquanto passo mais um fim-de-semana a trabalhar, entre aulas de compensação, reuniões e avaliação de trabalhos. É em ti que me revejo, enquanto tento batalhar por um futuro melhor. Não tenho três filhos, mas tenho cinco princesas e quero poder dar a todas algo melhor. E sei agora, um pouco, daquilo que passaste. E sozinha. E em silêncio.

Não te vou abraçar, mas isso não importa. Porque os abraços não se esgotam e em Junho dou-te um, ou dois, ou quinze. E enquanto choramos os dois (sabemos que vai acontecer) dou-te mais outro abraço. E depois conto-te tudo e depois quero ouvir-te contar tudo. E depois preparo-te o pequeno-almoço. E depois faremos o que não fizemos hoje.

E enquanto o depois não chega, enquanto a distância não se encurta, enquanto as folhas do calendário não anunciam Junho, apenas tenho uma coisa a dizer: Feliz Dia da Mãe. Beijinhos!

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