A ilusão da vitória nos Países Baixos... ou o tapar do sol com a peneira!

Os Países Baixos foram a votos ontem, naquela que foi a primeira eleição de relevo no panorama político europeu, que conta ainda este ano com eleições legislativas na Bulgária, França, Albânia, Noruega, Alemanha e República Checa; eleições presidenciais na França, Eslovénia e Sérvia e eleições autárquicas em Portugal, Reino Unido, Estónia, Dinamarca e Finlândia.

A campanha eleitoral desde cedo que se polarizou entre o populismo de extrema-direita do PVV de Geert Wilders contra "todos os outros", encabeçados pelo VVD, de centro-direita, do Primeiro-Ministro Mark Rutte. As sondagens causaram arrepio em Bruxelas, quando de súbito o PVV aparecia como potencial vencedor das eleições.

Veio o dia do voto. Contaram-se os votos. Vieram os resultados. E perante os resultados deparo-me com um ambiente festivaleiro de celebração, em torno de um resultado que nada tem para ser celebrado. O Primeiro-Ministro diz que "foi vencida uma espécie errada de populismo", mas olhando para os números falho em ver isso...

O VVD ganhou as eleições, é um facto, mas desceu dos 26.6% alcançados em 2012 para os 21.3% (2017), o que se traduz numa perda de 8 mandatos: de 41 mandatos em 2012 para 33 mandatos em 2017. O PVV passa de 10.1% (2012) para 13.1% (2017), ou seja sobe 2% no voto nacional, conquista cinco novos mandatos (passando de 15 para 20) e torna-se na segunda força política.

Mais interessante, e pouco referido por muitos media onde falta investigação e por muitos analistas que não fazem "o trabalho de casa" (porque, lá está, dá trabalho!), é o caso do PvdA, parceiro de coligação do VVD que passa de 24.8% em 2012 para uns parcos 5.7% (perdendo 19.1% do voto nacional) passando de 38 mandatos para 9 mandatos.

Ora quando os partidos da coligação governamental, numa eleição que disputava 150 mandatos, conseguem perder 37 mandatos (cerca de 25% do total de mandatos em disputa) falho em perceber onde está a tal vitória. Com o actual cenário qualquer coligação governamental precisará incluir, pelo menos, quatro partidos para alcançar maioria simples (76 mandatos) no Parlamento holandês.

As negociações para formar a coligação governamental não serão simples, tendo em conta a pulverização de votos num Parlamento que passa a albergar 14 forças políticas, ao invés das 11 que ganharam mandatos em 2012. A "chave" para a coligação poderá estar nas mãos do GL que passou de 2.3% de votos para os 8.9%, ganhando 10 novos mandatos (passando de 4 para 14 mandatos).

É verdade que o PVV não vai formar governo, mas isso era um dado adquirido à priori. Todos os partidos com assento parlamentar e com bons resultados nas sondagens pré-eleitorais tinham já dito que não iriam estar dispostos a fazer coligação com o PVV. E nos Países Baixos governos de partido único são uma raridade.

A celebração pífia da tal grande vitória do VVD, lembra-me os festejos bacocos após a segunda volta nas eleições presidenciais na Áustria (Dezembro, 2016). Uma vez mais, a extrema-direita (agora apelidada de direita populista pelos media) não chegou ao poder... Mas o facto de ter chegado a uma segunda volta e de nessa segunda volta ter tido mais de 46% de votos tem que nos alarmar, mais do que tranquilizar.

Mas celebrem lá estas pequenas vitórias em Bruxelas e pela Europa fora. Ignorem o avanço significativo da extrema-direita (ou da direita populista). Entretenham-se com joguinhos de palavras nos media e depois fiquem pasmos quando um punhado governos na Europa da União forem tomados de assalto, pelo voto popular.


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